domingo, 3 de agosto de 2008

Alvorecer

Alvorecer
Gosto tanto de ti!
És como o esquecer
Do que nada perdi

És simples, um, eterno
És apenas céu e luz
Sempre acesa ao frio Inverno
Tudo é teu e não seduz

Hoje nasces tu e eu
Nasço contigo também
Acordarei cego e ateu
Querendo ver e ver além

Mas por ficares incandescente
Permanecerei dormindo assim
Gostando de ti simplesmente
Pois só tu gostas de mim.


Gonçalo Faria, Novembro de 2007

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amor

O amor é idiota.
Uma boa risota
Para quem ama a vida.
E a mota.

Que amor é drama
Que esfria, que inflama
Dizem estes.
Estes? Quem não ama.

Mas também dizem os tais
Os amantes vitais
Que idiota é, sim, o só
Entre os casais.

E o apaixonado
Que é só e danado?
Esse é o idiot-amor.
A todos dá pena, coitado!



Gonçalo Limpo de Faria, Julho de 2008

Nas colinas onde o nada era verde

Nas colinas onde o nada era verde
Eu corria.

Corria pelo verde ventoso.
Não te via. Não te via!

Só minhas eram as verdes colinas
Eram verdes para mim só!

Mas, se minhas eram,
Porque o dizia?

Mas, se não te via,
Porque corria?

Porque sou um mau ausente.
Porque fraca é a ausência que corre.

Ausência equestre, galopas tumulto!
Maculas meu verde ventoso
Vazio!

Não te ver e querer ver-te!
O meu nada é verde por isso.


Gonçalo Limpo de Faria, Julho de 2008

Pandora

Abro a caixa de luz.
Fecho a da treva?
Sim, que só fique luar.

E não há luz na treva? Não há treva
Que na luz não coube?
Sim, é luar.

Pandora, onde está o luar?
Não sei, nunca soube.


Gonçalo Limpo de Faria, Julho de 2008

Flecha

Cabo de sonho
Pele minha consente
Possuis-me no peito
E lá ficas, ausente.

Sinto ponta cravada
Sai o cabo sumido
Fica o vazio feio
Esperança vã, é despido.

Cresces inútil de novo
Vejo-te metade ilusão
Não cravaste a outra pele.
De que me vale a paixão?


Gonçalo Limpo de Faria, Março de 2008

Não quero abrir os olhos

Não quero abrir os olhos
E perder o mar de encantos
Que me afogou a lembrança.

Ou os jardins desertos
Por onde vagueio em alma
E só minha alma existe.

Ou os céus sem horizonte
Que descem para mim só
E a ausência é apenas o longe.

Quero ser céu, mar, luar
Quero ser eterno, suave, infinito
Quero ser a noite, o sono e o sonho.

Por isso, peço-te, não mos tires.
Não mos abras, por favor,
Que esta ilusão pode durar se eu o quiser.


Gonçalo Limpo de Faria, Fevereiro de 2008